sábado, 3 de agosto de 2019

eu desisti da escola. depois de voltar chorando no ônibus por 40 minutos, larguei a biologia. me fodi. resolvi voltar pra faculdade. porque eu gostava de literatura, escolhi letras. eu tinha um plano: graduação, iniciação científica, mestrado, doutorado, concurso, ensino superior. algum dinheiro e certo respeito. na graduação, caí em depressão, me fodi. mas terminei, com algum respeito. virei exemplo quando entrei no mestrado. não sei por que diabos larguei o discurso e entrei na sintaxe gerativa. me fodi. entrei em depressão. de alguma forma, terminei, com alguma dignidade. porque não tinha escolha, entrei no doutorado. fiquei doente, deprimi, bebi o mundo, passei vergonha, me fodi. jubilei. voltei pra casa, 10 quilos a mais, com síndrome de burnout. com remédio e terapia e pilates, terminei. completamente fodida. não conseguia olhar pra minha tese, não conseguia publicar, não conseguia estudar pra concurso. larguei a academia. viajei, me apaixonei, me fodi. voltei, sem emprego, sem dinheiro, sem plano. deprimi de novo, perdi 5 quilos. porque queria refazer tudo de outro jeito, viajei de novo. quatro meses em que eu não estava fodida. voltei, sem dinheiro, sem emprego, sem plano. porque não tinha experiência e porque tinha um buraco no meu cv, fui fazer concurso. estudei, viajei, me desesperei, me fodi. deprimi, voltei pro remédio. porque antidepressivo é o que nos salva do caos, depois de 2 anos, passei no concurso. me preparando pra segunda fase, descobri os nomes da banca. porque marte tava retrógrado e o universo tava cagando na minha cabeça, tava lá o colega que copiava trabalho do roommate. o cara que grudava no professor pra conseguir qualquer vantagem. o cara que me viu bêbada, arrancando a blusa, que deitou comigo segurando meus peitos. depois que eu vomitei e entupi a privada do banheiro da casa dele. que me rejeitou. o único cara que eu não gostaria que me visse tremendo, gaguejando. porque eu ainda me lembrava da professora rindo nas minhas costas na última prova, desisti. chorei, me desesperei, me culpei. porque o desespero sempre tem fim, saiu o resultado do outro concurso. passei. bebi o mundo. porque tinha emprego, fiz planos. mas nunca acaba. porque nada é tão simples, um filha da puta entrou na justiça e a homologação do concurso foi suspensa. fiquei em suspenso. fiz uns trabalhos de revisão, caiu um dinheiro na minha conta, esqueci. não tem fim, não tem moral. continuo em suspenso.