quinta-feira, 12 de abril de 2012

e cês acharam que eu tinha atingido todos os níveis de constrangimento, hein? olha, se tem uma coisa que eu aprendi é: sempre pode ficar mais embaraçoso. 

ontem eu estava aqui toda envolvida nas discussões sobre o julgamento do direito de interrupção da gravidez de fetos anencéfalos. não vou defender causa, não vou levantar bandeira. não cabe aqui. mas eu chorei o mundo com a história das severinas e tatielles e tantas outras mulheres invisíveis. não, não tem nenhum sentimento nobre nisso. tem alguma coisa de reconfortante em perceber que seu coração não está empedernido. que você ainda consegue sentir empatia. tem muito de alívio em chorar por uma causa, por alguma coisa real, plausível. egoísmo puro, enfim.

então eu estava aqui toda envolvida, quando alguém bate na porta. vizinho com cara de moribundo, gemendo de dor, pedindo pra eu acompanhar ele no hospital. puta merda, quase me borrei. num minuto eu botei uma roupa decente, catei minhas coisas, chamei táxi, prometi pra mãe no telefone que ia socorrer filho dela. gente, eu só tinha trocado duas palavras com o menino. não sabia nem o nome. depois de esperar por dois táxis que não chegaram, resolvi pegar ônibus. perdemos o primeiro porque euzinha sou cega e, além de descabelada, estava sem óculos. e O MENINO É LERDO. pegamos o segundo porque mocinho bonito no ponto teve a bondade de parar o ônibus e o motorista caridoso fez o favor de nos deixar na esquina do PS. eu tive que preencher a ficha dele com meus dados porque O MENINO É LERDO e não foi capaz de dar nem o número de telefone. não, gente. o menino não estava sofrendo um enfarte ou tendo um AVC. o menino estava com DORES NA BARRIGA. olha, eu não consigo descrever o meu ~desconforto~ em acompanhar menino na triagem e na consulta, com toda a sua pedantice de vou-ser-enfermeiro, explicando detalhadamente todos os sintomas. eu fui informada de todas as alergias e rinite e bronquite e ites do menino. recebi informação sobre os hábitos alimentares e os movimentos peristálticos dele. soube que ele toma yakult porque tem intestino preso e toma luftal porque sofre de ~gazes~. eu já tinha contado todas as rachaduras no teto, já tinha inventariado todos os móveis e já tinha inspecionado todas as minhas cutículas, quando fui informada da consistência do cocô do menino. OLHA,

médica deu umas apalpadelas na barriga do menino e decidiu que ele tinha cólica biliar. ela não disse que eram gazes pra não me deixar ainda mais constrangida, tenho certeza. deram medicação pra dor e mandaram pra casa com receita de buscopam.

porque não basta ter que lidar com a merda da minha vida. eu preciso saber da merda do vizinho. putaquepariu vcs.  

6 comentários:

  1. Perai, perai

    O seu VIZINHO tava com pum travado e te pediu ajuda? Eh isso?

    Cara... E eu achando que a velha que sempre se apresenta pra mim no elevador era o cumulo da maluquice

    Menina, se benze!!!

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    1. HAHAHAHAHAHA PUM TRAVADO!!!
      morri! hahaha

      ele me contou que semana passada sentiu a mesma dor e eram ~gazes~. acho que dessa vez ele esqueceu do remedinho. aí filho mimado liga pra mãe apavorada e sobra pra vizinha desavisada.

      ai, tadinho. ele deve ter tido cólica mesmo. eu não presto...

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  2. sei bem como é o alívio quando a gente constata que ainda consegue chorar por alguma coisa. (comentário emo)

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  3. eu já achei que tava morrendo por causa de gases. é uma dor desgraçada!

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    1. ai. to me sentindo culpada aqui... :((
      eu acredito que seja uma dor desgraçada, mas não tira o desconforto da situação...
      :**

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