sexta-feira, 14 de outubro de 2011

estava aqui lendo os e-mails trocados com minha psicóloga quando eu estava doente. na segunda vez, porque, na primeira, eu escrevia cartinhas manuscritas, desenhava gráficos do meu estado emocional, fazia colagens coloridas. também fiz uns cartões divertidos pra esconder aquelas imagens horrorosas dos maços de cigarro. esses eu queria ter guardado comigo. sim, eu fumava. muito. e bebia. muito. beirando o alcoolismo. e chorava. descontroladamente. só descobri que minha apatia, aquela falta de vontade de viver, toda aquela dor era doença quando já estava na faculdade (na segunda graduação, porque a primeira foi uma escolha errada. muito errada).

o mais triste é que as pessoas não entendem. acham que é ~preguiça~. que você escolhe ficar prostrada na cama. que você prefere ver a vida cinza a reagir. por muito tempo, eu levava na bolsa um esqueminha feito pelo meu médico, que explicava o porquê eu sou assim. tudo culpa dos meus neurotransmissores. ainda tenho esse papel azul, guardado na gaveta do criado-mudo, entre guardanapos autografados, documentos vencidos, caixa de chiclete, dinheiro rasgado. porque eu já entendi que é uma condição minha. e um dia talvez eu precise explicar, de novo, que não é preguiça.

na segunda vez, eu já estava no mestrado. uma condição nova, mas o mesmo desespero, o mesmo vazio. talvez o que mais tenha me perturbado foi não conseguir ler. não conseguir escrever, a única coisa que eu faço bem nessa vida. isso foi há dois anos, mas é assustador ver que tudo continua aqui. as mesmas queixas, as mesmas dores. assustador.

ela está sempre à espreita. esperando um momento de distração meu. aquele momento em que tudo parece estar bem e eu baixo minhas armas. no fim, estou sempre esperando acontecer. de novo.

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