segunda-feira, 12 de setembro de 2011

eu ia até o consultório dela toda semana. sentava no sofá branco, do lado da caixa de lenços, e olhava a parede azul. e ela me fazia perguntas. e eu ficava irritada porque, imagina, ela não tinha esse direito. digo, de vasculhar e invadir minha alma daquele jeito. ela me fazia perguntas e eu chorava. porque tamanha dor não se  deixa pronunciar. mas ela não desistiu de mim. e, aos poucos, eu baixei a guarda. me desarmei. e, aos poucos, fui encontrando todas as respostas. um dia, queria falar sobre uma coisa que eu sentia, mas não entendia. então escrevi. e ela me disse: você está apaixonada. eu estava apaixonadinha pelo instrutor da academia e não sabia. não conseguia entender. foi a primeira das cartas. a primeira de uma centena de cartas amareladas, com uma letra trêmula, dobrada em três partes exatamente iguais. e eu nunca mais parei de escrever. um sem-fim de cartas que me rasgam, me despedaçam. aprendi que era mais fácil escrever. e percebi que todos esses estranhos sentimentos só se tornam reais quando escritos. ainda não entendo uma porção deles. e tem aquele que eu ainda não consigo nomear. mas esse eu já conheço. sei quando chega sorrateiramente e se instala num cantinho escuro, atrás de todo rancor e toda mágoa guardados com tanto cuidado. mas esse não dá pra esconder. porqueesse é o que me faz abandonar todas as fantasias rotas, que já não me cabem, mas que insistem em permanecer. esse é aquele que faz os dias mais coloridos. que me faz leve. hoje eu escrevi pra ela o que eu não sabia dizer anos atrás. hoje eu escrevi, soterrado em pensamentos tortos e ideias dispersas, discretamente, no fim da página: estou apaixonada. agora eu sei que é real. porque hoje, no momento em que eu deveria limpar a mente e o coração antes da luta, eu fechei os olhos e vi você.

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