quarta-feira, 7 de setembro de 2011

ele me perguntou sobre filmes. eu disse que preferia livros. e, no meu inglês ruim, fui listando livros em duas colunas imaginárias: gostei/não gostei. ele compra mais livro do que é capaz de ler, assim como eu. ele disse que tem caixas de livros guardadas porque sempre sonhou em ter uma biblioteca em casa, com estantes gigantes. como eu. ele faz listas de livro que gostaria de ler, eu faço listas de livros que gostaria de comprar. ele compra livros em sebos, eu gosto do cheirinho de livro novo. descobri que Cem anos de solidão, meu livro preferido, é um dos livros favoritos dele. e parti seu coração quando disse que achava Hemingway chato. quer dizer, o que eu li é chato. não gosto dessa coisa de um homem, um barco e um oceano inteiro. descobri que não sei nada de literatura brasileira, além de Machado de Assis, sua Capitu e seu autor defunto. alguns versinhos de Quintana e Drummond. e agora eu tenho uma longa lista de livros escritos por autores brasileiros contemporâneos. mas ele queria saber sobre os filmes. porque parece que ele quer se educar sobre o cinema nacional. sei tanto sobre cinema nacional quanto sei de literatura: quase nada. falei sobre o último filme que eu vi. uma versão tupiniquim de Catch me if you can. mas o longa não é tão bom quanto o documentário, que é fantástico. agora eu tenho uma lista de filmes. na verdade, a lista é antiga. hoje eu assisti um desses. e é meu favorito da vez. me lembrou muito de um filme de Peter Greenaway, The cook, the thief, his wife and her lover. a mesma relação entre comida, poder e sexo. e algumas cenas similares. esse tem uma fotografia belíssima, aquele tem humor. é isso: o filme brasileiro é leve, bem-humorado. acho que ele gostaria desse também. ele gostou de Cidade de Deus e queria ver Tropa de elite. o problema é que não tem legenda. e, amigo, não dá pra traduzir a linguagem desses filmes. toda a identidade de um povo na linguagem. e eu fico aqui me perguntando como alguém consegue viver num lugar sem saber a língua. claro, eu pre-ci-so aprender inglês. ele não precisa falar português. mas não se pode conhecer de verdade o lugar em que se mora e, especialmente, não se pode conhecer o povo e a sua cultura se não souber sua língua. eu só consigo pensar que ele não quer pertencer a este lugar. ele não pertence a este lugar. e eu confesso que é bem triste admitir isso. a mesma sensação de coração partido dele com a minha aversão à Hemingway.

Nenhum comentário:

Postar um comentário