sábado, 6 de agosto de 2011

educação sentimental

estava falando sobre a minha incrível habilidade de me relacionar com meninos. pensei no meu primeiro namoradinho. honestamente, tudo entre o começo e o fim é só um grande borrão. não sei exatamente como aconteceu. eu tinha doze anos e era toda perfeitinha. fui criada como uma princesinha. pra ser vista. pra fazer a melhor pose. e aprendi, observando minha mãe que eu deveria disfarçar frustrações. eu só tinha que sorrir e exibir meu vestido.

E. foi assim. ele era o menino mais bonito do último ano do ginásio e gostava de mim. eu não entendia (naquele natal, eu ganhei uma piscina da barbie, daquelas que faziam bolhas quando colocava sabão em pó), mas ele gostava de mim. e eu podia desfilar com ele e satisfazer minha vaidade. era tudo escondido, claro. um dia, minha tia descobriu e contou para a minha mãe, na minha frente. durante todo o caminho de volta pra casa, minha mãe fez um discurso inflamado sobre reputação, moral, ou qualquer coisa do gênero. me lembro de estar completamente encolhida no carro, humilhada. então ela disse: as pessoas vão falar que você é fácil. nunca esqueci. você namora um, depois namora outro e as pessoas vão te chamar de fácil. foi tudo o que ela me disse sobre meninos.

E. foi meu primeiro beijo e acho que ~namoramos~ algum tempo. um dia, soube por alguém que ele tinha se mudado pra outra cidade. acabou e eu não percebi. e eu permaneci impassível. eu não entendi. só sabia que tinha que ser difícil. manter minha pose de superior. eu continuei sem entender por muito tempo. até que um dia eu finalmente entendi, mas já era tarde. passei tanto tempo preocupada em ser inatingível que construí uma muralha. eu não aprendi a gostar. não aprendi a dizer sim. não aprendi a ouvir não. agora, olhando pra trás, é tudo uma grande nódoa, cinza, disforme. minha sensação é de que eu me perdi nesse espaço entre os 12 e os 30. e fico tentando repetida, incessantemente, retomar aquela história, a primeira. recomeçar. porque talvez assim eu pudesse aprender a gostar (e deixar que gostem de mim). porque eu continuo sendo a menina que foge para o banheiro com o diário nas mãos. na ponta dos pés, sem respirar. morrendo de medo de ser descoberta.

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