domingo, 28 de agosto de 2011

gramática

Para V.

você me faz lembrar o que eu estava fazendo em 1997
e me faz perguntas que não saberei responder nem em 2017.
você me abraça e me faz lembrar de que matéria sou feita,
de que todos os erros são perdoáveis,
de que não preciso ser perfeita.

seus discos, meus livros,
nossos desejos sublimados
meus caminhos tortos, suas trilhas e portos,
nossas histórias entrelaçadas
cruzadas fundidas emaranhadas.

você me abraça e tudo parece fazer sentido.
me esqueço de como são tristes os dias de chuva
e como são longas as noites de domingo
e que Abril já está no final e Maio não demora a chegar
frio e cinza e cansado.

minhas árvores infindáveis, suas pequenas árvores,
nossa linguagem particular.
minhas linhas retas na sinuosidade do seu plano,
toda minha inexatidão contida nos seus traços precisos.
toda minha intensidade acolhida na sua serenidade.

meus pés distraídos encontram os seus
e meus passos são leves porque você é meu guia.
minhas mãos curiosas percorrem as suas
que, impacientes, desenham nos grãos de açúcar
le visage du bonher.

eu, que sou tão inconstante, permaneço
nas suas lentes
nos seus papéis amarelos
na sua vitrola antiga
permaneço, viro tarde e adormeço.

seu coração, ávido, bate mais rápido que o meu, indeciso
te dou uma parte do meu e levo comigo um pedaço do seu
então pulsaremos no mesmo compasso
pulsando
pulsando
dançando
meu pedaço em você, palavras perdidas
sua parte de mim, cores vivas
nosso todo, um mundo inteiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário